terça-feira, 29 de agosto de 2023

Coisas que se escrevem nas críticas de vinho (2) - "tosta de madeira"

 Antes de mais: cada um tem o direito a expressar-se da forma que entender e longe de mim querer limitar a liberdade dos críticos que escrevem sobre vinhos. O meu pressuposto é que quem escreve, na comunicação social, é para ser lido. Crítica de vinhos não é literatura ou filosofia, pelo que deve existir a preocupação de 'garantir' que o leitor compreenda o que é dito - a menos que os leitores sejam enólogos ou sommeliers.

Nos últimos dias encontrei (no Expresso e na Revista de Vinhos) três vinhos com sabor a tosta de madeira.

Como não sei o que é, fui procurar ("Chamamos de tosta a ação de expor a madeira ao calor do fogo provocando a queima da superfície interna da barrica"). Ou seja, madeira de barrica queimada. A barrica queimada tem um sabor diferente da madeira em geral? Ou depende do tipo de madeira da barrica? Já agora, há realmente enólogos que usam barricas já tostadas para dar sabor ao vinho ou é apenas uma sensação?

Em resumo: acho perfeitamente natural que um vinho apresente sensações de fumo, de madeira queimada, mas acredito que quem escreve deve usar uma linguagem mais acessível.


domingo, 27 de agosto de 2023

By Élio Lara Gold Espumante Bruto Natural (2020): 8/10

O primeiro espumante produzido sob a referência By Élio Lara é, em termos de sabor, dos melhores que bebi, ao nível por exemplo do Côto de Mamoelas Grande Reserva ou do Dom Ponciano Extra Bruto, ambos aqui classificados com 9 pontos.

O que falta, então, para o 9 neste Gold? Tem uma bolha muito forte e a espumantização demasiado intensa para o meu gosto. 

Tirando isso, na boca é perfeito, em sabor (a madeira está muito bem integrada) e acidez.

Relação preço-qualidade: ótima.

Ano da produção: 2020
Data de compra:
Preço de compra: €22
Local de compra: Festa do Alvarinho de Monção
Data de consumo: agosto 2023
Produtor: By Élio Lara [nesta altura a informação no site não está atualizada]
Localidade: Merufe, Monção
Enólogo: Élio Lara
Acidez Total (g/dm3):
Açúcar residual:
Teor Alcoólico (%vol): 12º
Método de vinificação, segundo o produtor: estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês.
Aberto quanto tempo antes: 30 minutos
Quantidade de garrafas consumidas: 1
Pontuação: 8/10
Primeiro copo servido a: 11º
Acompanhou: ameijoas à bulhão pato
Pode acompanhar por exemplo:
(398)
 


quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Coisas que se escrevem nas críticas de vinho (1) - "notas de pedra molhada"

João Paulo Martins descreve um vinho do Alentejo (Terrenus Vinhas Velhas) num dos últimos Expressos com, entre outros atributos, "notas de pedra molhada" (trata-se de um atributo algo comum em muitas apreciações vínicas, acrescento).

A minha dúvida é dupla: por um lado, a que sabe pedra molhada?

Mas se a resposta pode ser "és ignorante, não percebes nada disto" (o que aceito), então pergunto: a que pedra se refere o crítico? Granito molhado sabe à mesma coisa que xisto? E calcário molhado é igual a mármore húmido?

Quantos leitores saberão o sabor da pedra molha?


quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Quanto custa este alvarinho?

Muito mais do que em Monção (onde há garrafeiras e vários supermercados, com destaque para o Coca), o Solar do Alvarinho desempenha um papel importante na promoção e venda de alvarinhos dos produtores de Melgaço, sobretudo dos mais pequenos, que não estão em garrafeiras ou na grande distribuição.

A Câmara investiu recentemente cerca de 300 mil na remodelação interior do espaço, que tive oportunidade de visitar na segunda semana de agosto.

Entre as novidades conta-se a existência de um tablet com informações de cada produtor exposto, que, na maior parte dos casos, têm mais do que um vinho. Está tudo no tablet. Tudo exceto o preço!

No espaço também se fazem provas, as funcionárias dão diversas informações mas, caramba, o preço é fundamental. 

Como posso decidir o que vou comprar se não sei o preço (no momento em que visitei era necessário perguntar um a um os preços, já que nem uma lista afixada [como penso que a lei exige] existia)?





quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Landcraft (2021): 7/10

Uma boa surpresa este novo alvarinho da Geographic Wines, mas apenas para quem - como eu - gosta deles com boa acidez (7,8 g/L). 

No aroma a marca floral e fresca do alvarinho está bem presente e na boca predominam os sabores cítricos mas não só. Maçã verde e pêra também se podem sentir.

Termina com a tal acidez...

Relação preço-qualidade: €12,99 está pelo menos dois euros acima da concorrência mais direta (refiro-me a colheitas da subregião). E €15,25 online é manifestamente exagerado, embora o podutor não possa controlar os preços finais.

Ano da produção: 2021
Data de compra: julho 2023
Preço de compra: €12,99 
Local de compra: El Corte Inglés (Gaia)
Data de consumo: agosto 2023
Produtor:  Geographic Wines
Localidade: Monção e Melgaço (os locais em concreto não são nomeados)
Enólogo: Nuno Morais Vaz e Daniela Matias
Acidez Total (g/dm3): 7,8 g/L
Açúcar residual: 1,2 g/L
Teor Alcoólico (%vol): 12,5º
Método de vinificação, segundo o produtor: "Maceração pré fermentativa 12 horas, fermentação espontânea com leveduras indígenas e temperatura controlada. Estágio sob borras totais durante 8 meses com bâtonnage periódica."
Aberto quanto tempo antes: 30 minutos
Quantidade de garrafas consumidas: 1
Pontuação: 7/10
Primeiro copo servido a: 12º
Acompanhou: Filetes de pescada e doçaria variada
Pode acompanhar por exemplo:
(397)



terça-feira, 15 de agosto de 2023

Faz falta um concurso de alvarinhos da Subregião

Ao contrário do que acontece do outro lado da fronteira, não existe um concurso de alvarinhos em Portugal e, ainda menos, da chamada Subregião (enquanto não surge a denominação de origem Monção e Melgaço).

Já se sabe que ninguém gosta de concursos até os ganhar mas eles são importantes como forma de valorização das marcas e, neste caso, da casta. Um concurso de vinhos alvarinhos, produzidos na Subregião, seria uma forma de afirmar a qualidade, a importância, a identidade do alvarinho.

Existe uma Associação de Produtores de Alvarinho, que deveria/poderia ter a liderança do processo.

Dir-se-á que existe um concurso dos Vinhos Verdes, mas é no mínimo embaraçoso que, como aconteceu este ano, o vencedor tenha sido um alvarinho... de Amares e o melhor espumante de alvarinho... de Santo Tirso. Na categoria DOC alvarinho, dos oito premiados, só um é da Subregião (Quintas de Melgaço). [as minha sobservações não são contra estes vinhos, entenda-se, mas contra o 'estado das coisas']

Desconheço se a generalidade dos produtores de Monção e Melgaço participam, mas sei que a situação, como está, não prestigia o alvarinho.

(em 2021 um dos vinhos premiados foi este Nórtico... que se vende apenas nos Estados Unidos!)


segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Soalheiro (2022): 8/10

Tenho vindo a alternar entre o 8/10 e o 9/10 e tudo depende de quanto mais doce o vinho me parece. Por isso deixei de o beber no ano da própria colheita. Ontem bebi o 2022 em restaurante e achei-o um pouco mais doce do que seria de desejar.

De resto, o que dizer do alvarinho mais conhecido (e mais vendido?) em Portugal?
É um vinho excelente, por representar o que é o alvarinho da subregião, com vitalidade, boa fruta, acidez vibrante, ainda por cima a um preço fantástico, mesmo que tenha encarecido ligeiramente.
 
Ano da produção: 2022
Data de compra: 
Local de compra: Restaurante Estaleiro, Vila Chã, Vila do Conde
Preço de compra: €16
Data de consumo: Agosto 2022
Produtor: Quinta do Soalheiro
Localidade: Melgaço
Enólogo: António Luís Cerdeira
Acidez: 
Quantidade de garrafas consumidas: 1
Pontuação: 8/10
Primeiro copo servido a: ?
Acompanhou: arroz de marisco
Pode acompanhar por exemplo: 
(45)

Soalheiro 2020
Soalheiro 2021
Soalheir0 2022

sábado, 5 de agosto de 2023

Cambados vs Monção

Termina amanhã em Cambados a maior feira do alvarinho das Rias Baixas.

A comparação com Monção é inevitável, até pelos pontos em comum: produtores vendem o seus vinhos (ao copo ou à garrafa) em stands espalhados ao longo de uma rua, onde há mesas para o pessoal 'pinchar' (também se vende comida na rua paralela) e beber/conviver.

Mas também existem diferenças: Monção parece cada vez mais apostada em ser uma 'wine party', o que significa que o negócio se faz a partir do fim da tarde e sobretudo durante a noite (sendo que 1/3 são provas, grátis...).

Neste sentido há diferenças que, na minha opinião, fazem de Cambados um modelo que Monção (ou até Melgaço) poderia repetir: no Túnel del Vino podem provar-se mais de 160 vinhos por 20 euros (e encontrei lá alguns mesmo muito bons), além de um concurso para premiar os melhores alvarinhos.

Isto significa, da parte da organização, um esforço de valorização do vinho e não a sua banalização, o beber por beber, o beber até cair [esperemos sinceramente que não, mas quando um dia houver um caso grave de coma alcóolico em Monção vamos finalmente acordar para a realidade].

(exemplo de excelentes vinhos que se podem beber no Túbel del Vino)





 


quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Antaia (2022): 8/10

Uma excelente surpresa, este novo alvarinho, apresentado pela primeira vez na última Festa do Alvarinho de Monção.

Trata-se de um alvarinho proveniente de uma vinha em Melgaço, plantada a cerca de 120 m de altitude em terreno granítico fértil. 

Nasce, segundo os seus responsáveis, como um pequeno projeto (pequena produção), que teve início em meados dos anos 70, renascendo em 2023, pelas mãos de um jovem casal (o nome, Antaia, é uma homenagem ao fundador António Domingues).

Trata-se de um colheita com uma excelente acidez, muito floral no nariz e notas cítricas.

Relação preço-qualidade: boa.

Ano da produção: 2022
Data de compra: julho 2023
Preço de compra: €8 na Feira (pvp recomendado €10,5)
Local de compra: Feira do Alvarinho de Monção
Data de consumo: agosto 2023
Produtor: Domingues & Bessadas
Localidade: Melgaço
Enólogo: Constantino Ramos
Acidez Total (g/dm3): 6,5 g/l
Açúcar residual: ?
Teor Alcoólico (%vol): 13º
Método de vinificação, segundo o produtor: "Fermentação a temperatura controlada em cuba de inox. No final da fermentação o vinho estagiou 6 meses em cuba com as borras finas.," segundo o produtor
Aberto quanto tempo antes: 30 minutos
Quantidade de garrafas consumidas: 1
Pontuação: 8/10
Primeiro copo servido a: 11º
Acompanhou: Bacalhau cozido com legumes
Pode acompanhar por exemplo: 
(396)


Casa do Capitão-Mor Reserva Maceração (2021): 6/10

Pontos fortes deste Casa do Capitão-Mor Maceração: o aroma (forte, personalizado) e a acidez final, bem marcada e longa. Já na boca o vinho ...

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